06 março 2007

QUENTE E FRIO

Vista aérea de Madrid, arquivo pessoal, Fevereiro de 2005

"Autentico" casamento indiano, arquivo pessoal, Fevereiro 2005

Nada melhor que um contraste para enquadrar uma teoria ou um tema, neste caso "As representações visuais"

Duas imagens em antagonismo diabólico, uma delas carregadíssima de função estética, com alguma relativa simbologia, e outra em absoluta e unívoca função epistémica.
Uma delas plena de retórica, enquanto a outra nada argumenta, só constata.
Uma com participantes representados e fazendo grande interacção, outra sem participantes representados e muito pouca interacção.
A estrutura narrativa de ordem reaccional bem patenteada nas feições, no vestir, e até nas etiquetas de lapela dos noivos, e outra absolutamente conceptual sem qualquer acção ou vetor indicativo. No entanto podemos considerar o traje dos noivos como um global conceptual , pois ele representa de algum modo uma etnia.
Ainda na análise das interacções, o contacto é fortíssimo, uma distancia social curtíssima, e ainda que o olhar dos noivos não seja directo à minha câmara, era directo a outras câmaras, o ligeiro perfil não é intencional.
Por último, a modulação e a composição cromática, com os noivos tudo é cor e predominantemente "quente", há uma exacerbada policromia desde o tecto ao chão, parede de fundo, passando pela maquilhagem, pelo traje, adereços típicos, flores, nada sobra de espaço vago ou incolor, enquanto reforço da mensagem de felicidade.
Em contraste, a vista aérea, é de uma tristeza infinita, confunde-se com um triste mapa, é monocromática, amorfa, fria, com distância social infinita, nenhum elemento ou informação se destaca, à excepção ligeira de um rio, e de um caminho de ferro, mesmo para uma simples identificação local é necessário uma legenda auxiliar (âncora), enquanto que a imagem dos noivos dispensa efectivamente qualquer legenda, ela "fala" prolixamente por si própria.