16 janeiro 2007

A natureza da imagem
A casa como imagem, versus, a imagem como casa
O que é para nós uma casa ? Um símbolo ? Uma imagem ? Um lugar ? Um emblema ? Um sonho ? Um objecto ? Um património ? Muitas questões se podem pôr nesta reflexão sobre a natureza da imagem, do naturalismo ao construtivismo radical.
Se estamos numa comunidade socialmente equilibrada, a casa é construída à imagem e cópia das restantes, se a comunidade é desiquilibrada e competitiva, elas serão construídas sempre em tamanho diferenciado, retratando a diferença social. Se acomunidade não é tecnológicamente ou académicamente evoluída, a casa terá uma imagem tosca, remendada, não planeada, assimétrica, se pelo contrário a comunidade é evoluída, a casa terá uma leitura geométrica, com um estilo prédefinido, e até será possível catalogá--la por século ou por década em que foi construída.
A imagem de uma casa pode revelar até uma etnografia, um clima, uma região. Cubata, igloo, castelo ou pagode, são facilmente referenciáveis aos respectivos continentes a que pertecem, por exacta associação visual que temos com esses lugares.
Mesmo no nosso ego, o que referenciamos como sonho de casa ? Aquilo que imaginamos ver de dentro para fora, como se estivéssemos lá dentro? Ou aquilo que sonhamos em ver por fora como se estivéssemos cá fora ? Ou ainda sonhamos simplesmente com as variadas formas e funções do seu interior ? Como é complexa a construção da imagem da casa dos nossos sonhos !
E quando o arquitecto que contratamos não percebeu nada daquilo que nós lhe explicamos com tanto empenho, por gestos ou por comparações de modelos ? Porque leu e interpretou ele, imagens tão díspares da nossa convicta e ambicionada descricção prévia ?
E do meio desta encruzilhada de interpretações ( Wunenburger ), avançamos para o caso extremo, o sem legenda, o sem referência, o sem estilo, aquele apenas que aplica o carimbo económico do pensador isolado, pragmático e utilitarista.
Os edifícios dos nossos bairros (ditos) sociais, do norte ao sul do país, de S.Petersburgo a Paris, ou de Zagreb a Nova York, são isso mesmo, são edifícios da classe dos construtivistas radicais, todos iguais, sem diálogo, sem referência externa (Von der Glasersfed, 1950-1970), relativamente ao meio envolvente ou ao utilizador.
Estas quatro fotos mostram a evolução do naturalismo ao construtivismo radical enquanto imagem de habitação.
A casa como imagem de abrigo - Kénia
A casa como imagem de trabalho e vivência - Lago Titicaca
A casa como imagem do senhor feudal e colonial - Kénia
A casa construtivista sem referencias externas - ( só eu sei ... )