20 fevereiro 2007

Reflexão sobre o signo icónico

Conjecturas, estiramentos e contracturas acerca de significados e definições de signo, em semiótica.

O Signo

a sua definição apoquenta
que nos esfria e esquenta
que nos seca e unguenta
mas não enche, nem rebenta

Humberto Eco tem uma boa definição para este tormentoso rimado bipolar:
« - A grande crise da semiótica é e será a definição da noção de signo, o signo até nem existe, mas não podemos viver sem ele », e ainda mais afirmou :
« - A teoria dos signos ainda está para nascer»
Saussure tem outra definição tão ou mais tormentosa:
« - Todo o signo é arbitrário ».
Desta «crise» de definição de signo, vamos desaguar por inerência a outras «crises» de definições relacionadas com semiótica.

O grupo μ, constituído por uma plêiade de pensadores da semiótica, uniu esforços e lançou um projecto de um tratado conducente a uma regulamentação consensual de definições técnicas desta área.
Desse TRATADO DO SIGNO VISUAL, escolho algumas dessas definições como complemento de interpretação de um outro post neste blog, sobre definição de signo icónico.

A similaridade; Segundo Eco e Grombrich, similaridade é um processo visual e plural de determinações, que se podem fazer a partir de um sistema simbólico determinado, ou seja, decorre da caracterização que possamos fazer de um código iconográfico, ou exagerando ainda de uma forma redutora, posso interpretar o que eu vi ou li, com toda a liberdade e sem penalizações.
Sendo assim posso dizer para mim, que qualquer homem de braço ao peito, personifica Napoleão. E que se estou metido num «buraco», posso estar refugiado e seguro saindo quando quiser, assim como posso estar exposto a uma grande e difícil trapalhada de onde dificilmente sairei.

A semelhança, outra definição complexa transversal à linguística, à matemática e à semiótica.
A definição pela linguística aponta para parecenças, um algo ou um todo de propriedades abstractas ou concretas em comum. A semelhança pela matemática é mais rigorosa, semelhante é aquele que tem a mesma forma em ângulos ou curvas, com todas as dimensões em absoluta correspondência proporcional e independentemente da posição espacial. Dois círculos são sempre semelhantes, dois rectângulos nem sempre. Pela semiótica, semelhança significa um fenómeno em que somos expostos simultaneamente a duas experiências sensoriais ou estímulos, uma de ordem psicológica e outra de ordem visual, desta conjugação dual e complexa podem emergir as mais variadas interpretações em cada caso específico, qualquer coisa pode representar qualquer coisa, reservando-se no entanto um estatuto de quem é o original e quem é o semelhante, ou seja só há análise num dos sentidos, um retrato é semelhante ou não a uma pessoa e raramente ou nunca a análise no sentido contrário, ainda no âmbito da mesma reserva, ninguém se representa a si próprio, do mesmo modo um mapa é semelhante ou não a um território e nunca o contrário.

A cotipificação, citada no referido diagrama, é outro elemento variável na análise de verosimilidade de um signo icónico. A cotipificação significa o elevado ou baixo nível de comensuralidade da relação entre o significante e o referente, garantido através do tipo, que com eles obrigatoriamente se interrelaciona.

As marcas, são uma outra referência a estímulos facilmente descritíveis, geralmente de pormenor e distintivas, mas que fazem parte integrante de um significante icónico como um todo, concorrendo para a identificação de um tipo. Estas marcas podem ser de natureza cromática ou textural, estas marcas podem contribuir para a acima citada, cotipificação. Tomando como exemplo simples, uma representação de uma cabeça qualquer, mesmo a preto e branco pretendendo representar apenas uma figura masculina, fica imediatamente com a classe alterada, se lhe acrescentar uma pena de ave ( a marca ), a simples pena de ave garante no tipo, a nova equivalência entre referente e significante . transforma-se por adjunção de homem, em índio

Transformações, outra terminologia utilizada no post em diagrama, transformações são operações executadas sobre a unidade principal ou o todo, essas operações descrevem-se segundo os operadores lógicos básicos (adjunção; supressão; supressão-adjunção e permuta). Há quatro famílias de transformações:
a) As Geométricas exemplificadas por: Translação, Rotação, Simetria, Homotetia, Deslocação, Semelhança, Congruência e Projecção.
b) As Analíticas : Diferenciação e Filtragem ( se for incompleta chama-se Discretização ).
c) As Ópticas : Iluminação, Contraste, Profundidade de campo, Nitidez, e Zona de visão nítida.
d) As Cinéticas : Integração, Anamorfose, Multiestabilidade, Tramas, Hachuras, Conceitos de proximidade e/ou de distância.
Também é referido que uma transformação é simplesmente retórica, pois é comparável aos exercícios de eloquência linguística, quando por exemplo se representam e factualizam representações de três dimensões, em planos de duas dimensões, um conflito permanente em arquitectura e pintura.

Prova de conformidade, sendo o tipo um conjunto de paradigmas, há forçosamente uma confrontação de estímulos visuais entre um objecto singular e um modelo geral, assim como o interpretante fará ou não hipóstases de manifestações sensoriais experimentantes ( tanto na interacção referente-tipo, como na significante-tipo), e dessa quantificação de confrontação e de experimentação, atinge-se ou nasce uma taxa de identificação minimal, que ratifica ou não como prova de conformidade, a verosimilidade de um signo.

Muitas mais definições ou complementos seriam necessários para resumir a tarefa do grupo μ, mas ficamos por estas com o objectivo primaz, como acima se disse, de melhor interpretar o diagrama de definição de signo icónico em paralelo neste blog.